Em nosso estudo anterior, Mt. 7.15-20, enfatizamos o elemento de
sutileza dos falsos profetas, aqueles homens que costumam apresentar-se diante
de nós disfarçados de ovelhas, mas que, no seu interior, são lobos devoradores.
É preciso entender claramente o sentido da palavra “má”, nessa
citação do v. 17.
“Má”
não significa, neste caso, “estragada”, porquanto uma árvore decadente ou
estragada não pode produzir fruto nenhum.
Jesus contrasta aqui dois tipos de árvores que parecem quase
idênticos, mas que, na avaliação da qualidade de seus frutos, descobre-se que
são inteiramente diferentes. Um pode ser utilizado, outro não.
O Senhor quer inculcar em nós o fato de que ser crente é algo fundamental
para a personalidade, é algo vital que não envolve apenas uma questão de
aparência superficial, no tocante às crenças ou à vida diária.
Jesus destacou esse aspecto, ao usar essa ilustração para melhor
explicar essas variações de caráter, de natureza, de essência real dessas
árvores e dos respectivos frutos que elas produzem.
Essa é a característica para a qual sempre deveremos estar
olhando, tanto em nós mesmos como em outras pessoas.
Jesus advertia sobre o perigo de nos deixarmos enganar pelas
aparências; sobre o perigo de alguém parecer ser um crente, sem que o seja na
realidade.
O perigo, nesse caso, consiste em alguém tentar fazer-se passar
por crente adicionando certas coisas à sua vida, ao invés de tornar-se uma nova
criatura, ao invés de receber vida eterna no íntimo, ao invés de receber a
transformação de sua própria natureza interna, mediante a renovação segundo a
imagem do próprio Senhor Jesus Cristo.
O cristianismo é único a interessar-se primariamente pelo estado
do coração do ser humano.
Nas Escrituras Sagradas o coração geralmente aparece como centro
da personalidade.
Em Mt. 12.33-37; 15.11, 19
nosso Senhor esclarece ainda mais esta questão.
Não é o que alguém faz superficialmente que importa. Para Deus é a
própria pessoa que importa.
Nosso Senhor enfatizava que aquilo que se acha no centro do
coração acabará se manifestando em suas crenças, seu ensino e também na sua
vida.
Podemos demonstrar esses fatos através de vários princípios. O
primeiro deles é:
I - AQUILO QUE UM INDIVÍDUO É, NO MAIS PROFUNDO DO SEU SER,
SEMPRE ACABA SE REVELANDO, E ISSO ATRAVÉS DE SUAS CRENÇAS E DE SUA CONDUTA
DIÁRIA.
Tal como um homem pensa assim ele age (Pv.
23.7). Ou seja, inevitavelmente proclamamos aquilo que somos e
aquilo em que acreditamos.
A natureza forçosamente acaba se expressando. Ninguém colhe “uvas dos espinheiros” ou “figos dos abrolhos”; e, por igual
maneira, “não pode a árvore boa produzir
frutos maus nem a árvore má produzir frutos bons”.
Podemos
ficar enganados durante algum tempo, mas as aparências não perduram.
Jesus nos
exorta a ensinar e disciplinar a nós mesmos, procurando sempre pelo fruto. Que
tipo de fruto eu tenho produzido?
Podemos identificar
características de cristianismo autêntico, fazendo algumas perguntas:
Por que eu
ou tal pessoa escolhemos viver esse tipo de vida? Será puramente por uma
questão de temperamento e caráter tranquilo, e de uma índole gentil, algo
puramente natural?
Esse
indivíduo dá a impressão de que está vivendo essa forma de vida por causa de
sua fé ou por simples moralidade?
Jesus nos
ensina neste texto sagrado que,
II - SOMENTE AQUILO QUE SE ORIGINA DA NOVA NATUREZA, É QUE
SE REVESTE DE VALOR AOS OLHOS DE DEUS.
Se uma
pessoa não tem consciência da total e absoluta santidade de Deus, e da
verdadeira mensagem da cruz do Calvário é que toda a retidão de uma pessoa é inútil
para a sua salvação, sempre haverá alguma coisa que o leva a fracassar quando
ele tenta caminhar pelo caminho apertado.
A pessoa que
verdadeiramente acredita na santidade de Deus, que reconhece sua própria
pecaminosidade, e impureza do seu coração, que acredita no julgamento divino e
na possibilidade do inferno e do tormento, que acredita que ela mesma é tão
impotente que coisa alguma jamais poderia salvá-la e reconciliá-la com Deus a
não ser a intervenção do Filho de Deus, que veio dos céus à terra, para passar
pela amarga experiência da vergonha, da agonia
da crueldade da cruz – tal pessoa acaba por demonstrar tudo que existe
na sua personalidade.
III – O QUE O VERDADEIRO CRENTE SÃO AS QUALIDADES CITADAS
NAS BEM-AVENTURANÇAS E OS FRUTOS DE GÁLATAS 5.
O indivíduo
que possui o Espírito Santo em seu interior, necessariamente produz o bom fruto
descrito nelas.
Ele é
humilde de espírito, lamenta-se em face de seus pecados, mostra-se manso,
pacificador, é limpo de coração, e assim por diante.
Aquele que
possui em seu interior a natureza divina não se interessa pela pompa, pelo
exibicionismo e por externalidades.
Não está
preocupado em provocar boas impressões a seu respeito; antes, é alguém manso e
humilde, cuja única preocupação é Deus, o seu relacionamento com Ele e com sua
verdade.
Se sou um
indivíduo dotado de mente mundana, embora eu possa estar pregando alguma
profunda doutrina, ou tenha desistido de determinadas coisas, tudo isso
transparecerá em minhas “palavras ociosas”
(vazias, irresponsáveis) Mt. 12.36
É quando não
estamos vigilantes que realmente demonstramos aquilo que somos.
Podemos
esforçar-nos para que a nossa aparência corresponda à de um crente; porém, é
aquilo que subitamente aflora em nós que realmente revela nossa natureza
íntima.
Devemos
lembrar que por mais falhos que sejamos ao julgar as circunstâncias e por mais
que possamos ser iludidos pelos falsos profetas, Deus é o Juiz, e Ele nunca se
deixa enganar. “Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo”.
Que Deus nos
desperte para estes princípios, capacitando-nos a exercer esse discernimento
que diz respeito a nós mesmos e a todos aqueles que podem vir a ser uma ameaça
ao bem-estar de nossas almas.
Concentremos
os nossos esforços em deixar Cristo inundar o nosso ser ao ponto de transbordar
e revelar sua presença em nós através dos bons frutos.
Que Deus use de Sua misericórdia para conosco. Amém.
JONES, D. M. Lloyd. Estudos no Sermão do Monte. SP: Ed. Fiel, 1984.
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